terça-feira, 31 de maio de 2011

OS PARADOXOS DA AUTOCONSCIÊNCIA DE ROUSSEAU


Neste texto o autor de Pedagogia Profana destaca algumas confissões sobre a história de Jean Jacques Rousseau. Nas palavras de Larrosa “[...] para contarmos o que somos, talvez não tenhamos outra possibilidade senão percorremos de novo as ruínas de nossa biblioteca, para tentar aí recolher as palavras que falem para nós.”(p. 22). Diante disso, percebe-se que Rousseau, que tudo já havia dito, em Confissões conta a sua história na primeira pessoa, conforme aponta o autor.

Neste sentido, o texto traz os paradoxos da autoconsciência de Jean Jacques: “por um lado, é uma constante e orgulhosa reivindicação da soberania do eu; por outro lado, é uma luta interminável contra o desmoronamento desse eu, contra sua radical ausência.”(p. 24). Assim, busca entender a consciência de si mesmo, revelando o que de mais secreto há em Rousseau e que somente ele poderia dizer sobre a sua história interior.

Além disso, o autor destaca alguns aspectos importantes sobre a vida de ser professor, ou seja, a necessidade constante do conhecimento científico e do conhecimento de si mesmo. Assim como Rousseau ‘caiu em si’ ao atravessar o bosque e perceber a máscara que envolvia sua história iniciando a obra mais importante de sua vida sobre o seu eu, o professor também pode descobrir novas formas de ler e escrever, mudando a história de si mesmo e de seus alunos. Nesta linha de pensamento o autor esclarece que “[...] os homens se enganam sobre si mesmos, não se conhecem a si mesmos, vivem fora de si mesmos.” (p. 32)

No momento que Jean Jacques toma consciência dos seus sentimentos ele sente a necessidade de reescrever sua história, causando-lhe uma contraposição entre ser e parecer. Sobre isso o autor relata uma história que aconteceu com Rousseau quando tivera dez anos de idade e como ele conta o fato quando adulto. Como o subtítulo sugere: a expulsão do paraíso.

Para ele não importa o que os outros pensam e dizem sobre sua pessoa, mas o juízo que ele faz de si mesmo. Segundo o autor, em meio aos delírios provocados pela febre, Jean Jacques pôs-se a refletir sobre o que havia sido sua vida, baseado na Natureza, na Verdade e na Virtude, para construir um eu seguro, sólido e estável. No entanto, a busca por uma nova vida, um eu modificado gerou os paradoxos da autoconsciência. Como o autor ilustra que Rousseau era alguém que se enganava ou se deixava enganar e que um dia se deu conta do que na verdade ele era e a partir daí nada mais foi a mesma coisa. Agora tornara-se consciente de si mesmo. Entretanto, na busca de si mesmo deixava de ser ele mesmo, permanecendo num estado de alienação por alguns dias ou anos.

Todavia, Rousseau foi um filósofo crítico e seguro, um autor inteligente que participava de discussões sábias, ao aproximar-se da morte, converteu-se em alguém alienado por seus delírios, da mesma forma que se convertia nos personagens das histórias infantis que lia quando criança. Nas palavras de Larrosa

“[...] o profeta da autoconsciência e da autenticidade em suma ..., afinal não havia feito outra coisa a não ser entregar-se a um delírio literário e, nesse delírio, continuava sendo outro, nada mais que um personagem de um livro lido, construído e incorporado pela atividade de um leitor demasiado sensível, demasiado apaixonado.” (p. 39).

E é na obra de Rousseau que pulsam alguns dos paradoxos da condição humana, conforme salienta Larrosa.

Contudo, a busca de si mesmo tornou-se uma permanente metamorfose, ou seja, “Buscando-se a si mesmo, Rousseau descobrirá sua própria inexistência” (p. 40). Deste modo, pode-se considerar que a busca do eu interior é uma consciência de poder ser também de outra maneira. Descobrir e conhecer é a razão da nossa existência, da interminável busca de nós mesmos.

LARROSA, Jorge. Pedagogia Profana: danças, piruetas e mascaradas. Autêntica.


Nenhum comentário:

Postar um comentário